Neste Carnaval use camisinha. Será?

Blog da Saúde São Miguel | 10:01 | ,

Muitas campanhas de saúde pública têm sido feitas no Brasil desde o primeiro governo do presidente Rodrigues Alves (1902-1906), que tomou medidas enérgicas no Rio de Janeiro, polêmicas, envolvendo o grande sanitarista e, então, ministro da Saúde - Osvaldo Cruz. A Revolta da Vacina foi o subproduto das medidas governamentais e entrou para a história das campanhas de saúde no Brasil. A truculenta campanha de vacinação anti-variólica quase causou uma guerra civil, mas trouxe resultados positivos inegáveis, frutos do trabalho de Osvaldo Cruz, colhidos mais tarde por seu sucessor Carlos Chagas.
Nos últimos anos assistimos a várias campanhas governamentais – contra o cigarro, contra o alcoolismo, campanhas de vacinação de crianças, campanhas em favor do aleitamento materno, campanhas de combate à dengue e, notadamente, campanhas de prevenção e combate à AIDS. Quase todos os anos, nesta época, toda a mídia reprisa o slogan da campanha iniciada no passado - ¨Neste Carnaval use camisinha¨.
Pesquisas de ONGs e do Ministério da Saúde mostram que o uso da camisinha não é de modo algum generalizado e que cai muito quando o relacionamento se torna estável, depois de algumas semanas. O uso correto da camisinha, também conhecida no passado como preservativo ou condom, está longe de ser normativo, o que agrava ainda mais o risco de doença sexualmente transmissível e de gravidez, particularmente entre adolescentes.
Dados oficiais mostram que a AIDS cresceu no Brasil ao mesmo tempo que as campanhas contra a AIDS foram orquestradas. Há, no Brasil, entre 1980 e junho de 2010, o registro oficial de 592.914 pessoas com AIDS. Cerca de 38 mil casos novos têm surgido a cada ano nos últimos anos. A AIDS tem crescido na faixa de idade de 13 a 24 anos e tem sido especialmente perversa entre meninas de 13 a 19 anos, única faixa etária em que o número de mulheres supera o de homens.
A principal forma de contágio, tanto em homens como mulheres, é, de longe, a sexual, tanto heterossexual como homossexual masculina. Os casos de transmissão sexual superam de muito, numericamente, os casos transmitidos pelo uso de drogas na epidemiologia da AIDS, no Brasil e na maior parte do mundo.
Pode-se concluir, sem dificuldades, que as campanhas governamentais neste particular têm sido pouco eficazes e que a divulgação pré-carnavalesca do slogan não vai longe o bastante para fazer qualquer diferença, tanto quanto a distribuição gratuita maciça de camisinhas no país, ou parte dele, na época do Carnaval. A AIDS, bem como todas as inúmeras doenças sexualmente transmissíveis, está a exigir muito mais da parte do Estado do que o que temos visto até agora. Está a exigir um Osvaldo Cruz.

Dr. Lísias Nogueira Castilho, médico urologista
Professor Livre-docente da Faculdade de Medicina da USP
Diretor Clínico do Instituto do Radium de Campinas

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